Um pouco da nossa história
A história da organização da nossa categoria começa em 1979, com a fundação da Associação dos Trabalhadores do Transporte da Grande Florianópolis. Como toda associação, tinha o objetivo de congregar o pessoal em torno de atividades sociais, culturais e esportivas. Não reivindicava nada.
Com a redemocratização do país (era ainda a ditadura militar de 1964), esse núcleo organizado viu que era possível ampliar a ação coletiva e decidiu criar o Sindicato em 1983. Nos primeiros mandatos, os sindicalistas não optaram por estratégias de negociação e de confronto com as empresas, o que resultava em conquistas modestas. A partir de 1996, a categoria optou por dirigentes mais combativos, com uma estratégia que envolve alianças com outras organizações sindicais e movimentos populares – já que o transporte é um serviço público fundamental para toda cidade.
Movimento sindical: A história escrita pelo trabalhador
A vida tem muitos lados, o emprego tem só dois: o do patrão e o do empregado. Tem gente que acha esse modo de ver as coisas muito atrasado. Mas essa gente nunca entrou numa garagem de ônibus. No transporte, é tudo muito claro: os patrões querem aumentar seus lucros, custe o que custar. Contam com o apoio da prefeitura para impor tarifas elevadas e explorar os usuários. E usam a força deles mesmos para aumentar a exploração da categoria.
O movimento sindical nasceu há duzentos anos para enfrentar esse tipo de patrão, que faz de tudo para arrancar mais lucro do trabalho de seus empregados. Graças ao sindicalismo, os trabalhadores conquistaram uma série de direitos na Constituição, CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e nos acordos coletivos. Quando algum desses direitos não é cumprido, as categorias se organizam para a batalha.
Assim foi construída a história do movimento sindical: os trabalhadores reúnem a única força de que dispõem (sua capacidade de organização) para ampliar seus direitos e exigir o cumprimento dos direitos que já conquistaram. Os patrões resistem. Quanto mais forte o sindicato, mais forte o trabalhador.
Um Sindicato de luta!
Era pra ser forte: empresas de transporte - de linhas urbanas, estaduais, nacionais e internacionais -, de cargas, turismo, fretamento. Essa era a base do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte da Grande Florianópolis, fundado em 1990. Mas por divergências e disputas internas, ingerência externa e falta de mobilização, o Sindicado acabou, em 1995, sendo dividido em três: o Sindicargas, o Sintrafopolis (rodoviários), e o Sindicato dos Motoristas e Cobradores (Sindimoc) – este último passou a representar trabalhadores de dez empresas.
Na época, os trabalhadores do transporte urbano tinham uma jornada de trabalho de sete horas, com vinte minutos de descanso. Logo, porém, se viu que a diretoria recém-empossada do sindicato pendia para o lado dos patrões. A jornada passou a ser de oito horas, com gratificação semestral, mas que poderia ser retirada pela empresa em caso de infração e outros critérios estabelecidos pelos patrões. Estas decisões atravessadas ocorreram porque as informações não eram repassadas à categoria, que, portanto, não se mobilizava, esvaziando as assembléias.
Começo da mudança
Não poderia demorar muito até que alguém percebesse que o sindicato não estava cumprindo seu papel de defender os direitos dos trabalhadores e se organizar. Foi o que aconteceu no início de 1996, quando a dupla conhecida como Joaquim e Queixinho resolveu discutir com a categoria a necessidade de mudar a direção do sindicato, devido, entre outras coisas, à queixas de má gestão e desvio de dinheiro.
Neste contexto, a Diretoria, alheia à movimentação, chamou uma reunião para alterar o estatuto, ampliando suas atribuições e foi surpreendida com a grande participação da categoria, que exigiu convocação de novas eleições. Reconhecido pela defesa dos direitos dos trabalhadores, o grupo de oposição à Diretoria instituída, tinha apoio da CUT e de outros sindicatos. Com isso, conseguiu organizar a categoria e formar uma chapa para concorrer as eleições. A chapa dos trabalhadores, Unidos Venceremos, sagrou-se vencedora na eleição do dia primeiro de dezembro.
Vingança dos derrotados
Os derrotados, no entanto, foram maus perdedores: não reconheciam a decisão da assembleia, nem a eleição. Entraram na justiça, mas foram derrotados mais uma vez. Ainda assim, não compareceram no dia da posse da nova diretoria para a entrega das chaves e transmissão dos cargos.
Ao abrir a sede do sindicato à força, no dia 5 de dezembro, a surpresa: o Sindimoc fora saqueado – não havia documentos nem fichas cadastrais; nada além de mesas e cadeiras. Papéis que comprometiam a antiga gestão foram queimados. Além disso o sindicato devia dinheiro a vários fornecedores e haviam cheques sem fundo sendo cobrados. O saldo disponível em conta era de R$ 0,06.
A nova diretoria tinha que partir do zero, refiliando toda a categoria. Mais do que isso: tinha que recuperar a dignidade e credibilidade da instituição, abaladas, e restabelecer uma boa relação com a população, que considerava a categoria co-responsável pelos aumentos de passagem.
Surge o Rodão e o Jornal do Ônibus
Para melhor divulgar suas informações, surgiu o jornal que seria embrião do Rodão, ainda com o nome Unidos Venceremos. A primeira edição divulgou o resultado das eleições. O nome O Rodão foi consolidado ao longo das três edições seguintes. Hoje o Rodão é o principal veículo de comunicação da categoria que dialoga com cada trabalhador expondo as principais lutas do Sintraturb para os trabalhadores. O Rodão teve em sua edição número 100, uma publicação comemorativa que lançou o novo layout do Jornal. Bem mais tarde, em parceria com o Rodão também foi criado o Jornal do Ônibus uma publicação para dialogar com a sociedade, discutindo com a população os problemas do Transporte em Florianópolis.
A primeira grande Paralização
Em 1997, a prefeita Ângela Amin (PP) iniciou seu mandato. Entre as promessas de campanha estava a redução da carga horária da categoria para seis horas. A promessa não foi cumprida, e a prefeita nunca recebeu a diretoria do sindicato para conversar. No dia 14 de março, motoristas e cobradores paralisaram o Terminal Cidade de Florianópolis por 30 minutos. O protesto foi contra a cobrança indevida de multas da Prefeitura. Como o Terminal já estava pequeno nesta época, os motoristas tinham que parar em fila dupla para os passageiros descerem e eram multados. Em represália, a empresa Emflotur demitiu o companheiro Queixinho porque o ônibus dele ficou atravessado na entrada do Terminal.
O Sindicato inicia a Campanha Salarial após a aprovação da Pauta de Reivindicações. Em abril os patrões solicitam a Prefeita Ângela Amim o aumento da tarifa, alegando não negociar nada sem a “ajuda” da Prefeita. No dia de 30 de abril mais de 300 companheiros aprovaram o indicativo de Greve da categoria para o dia 8 de maio. Com a paralisação, a categoria mostra sua força, e o sindicato consegue aprovar grandes conquistas como: redução da jornada de trabalho; aumento real de salário, vale-alimentação e ampliação do plano de saúde. Algum tempo depois, os patrões tentam retaliar demitindo alguns companheiros que haviam participado ativamente da greve. Sob ameaça de novas paralisações, eles acabam voltando atrás e readmitindo os trabalhadores. Nesta época inicia-se o transporte executivo, com os famosos “amarelinhos” – mais uma exploração ao motorista que também cumpre o papel de cobrador. Através do Rodão, o Sintraturb denuncia, mais uma vez, as tarifas abusivas.
Conflitos internos e derrotas
Com o sucesso do sindicato alguns diretores passaram a se acomodar. Sua falta de compromisso com a luta estava beneficiando as empresas e, por isso, foram levados para avaliação popular, em assembléia. Dos cinco diretores avaliados, quatro foram exonerados. Em 1998 acontece a primeira derrota da categoria. Naquele ano a greve teve um preço alto: a polícia militar entrou em conflito com os trabalhadores – além da violência, muitos foram demitidos. Novamente a categoria relembra as promessa de campanha não-cumpridas da prefeita Ângela Amin (PP).